MANDALA (segunda parte)

"Quem era você dormindo pelos cobertores das calçadas das lojas - embrulhada nos seios por barbas louras, castanhas, estrangeiras? -
enforcando gatos recém-nascidos enciumada nos bares e sinais porque o homem parava de alimentá-lo;
puxando descarga - crematório das noites - e seu filho, montículo de poucos meses, rodopiando, rodopiando prá baixo das casas, piscinas privativas, vagas rotativas, túneis, supermercados, jardins indevassáveis de heras importadas no caviar ...
contribuindo pros subsolos de carniças, dejetos e rebanhos indo pro matadouro no Metrô e oficiais de fraque e cérebros enterrado eras atrás - atrás do Monte Carnac, índios nos campos, píton sugando Cleópatra na estrada de Roma -
o ilho, seu filho, inquisidor, Torquemada invertido, respirando, vomitando, comendo florestas incendiadas, cinzas de "delinqüência" e retornando na água - nós mergulhando nos farelos do corpo dele.
Ma. - consumiu-se nas bordas da minha cama - pegou uma xícara de café preto, dormiu nos colos de estudantes que de manhã iam prá bestificação beatificação obrigatórias e cantar hinos nos pátios das escolas;
nua na praia pelo fim da festa onde sua mente te furtou as roupas, documentos, nomes, cicatrizes no canto da língua, a digital nos homens nus ainda estirados sobre um tapete;
roubando cachorros-quentes nas barraquinhas à noite, e galinhas, bifes, aspargos, mostarda e maionese nas geladeiras de cozinhas que talvez nunca mais verá de novo - tantas geladeiras e banheiros e saboneteiras ainda por serem apresentadas sem formalidades e roupas -
quantas camas descobertas nos tampo das mesas, nos tampo das cabeças, nas tampas das garrafas, só por um curto tempo - o fiel usurpador dragão, amarelo-azul, cuspindo fogo pelo teto, ti dragando até em casa e você beijando o táxi.
A maquinária sexual nos postes ao longo das luzes e obras em construção - cinzas faces sem faces ti propondo sociedade ou banimento - a maquinária engrenada em sapatos de couro contrabandeado Uruguai salivando sexo em suas orelhas - chutar virilhas, beijar a rua, adeus - 'cuide mulher e elevadores' -
crateras das ruas apaixonadas e bancos acolchoados dos carros e táxis - a comissão de direitos subterrâneos te elegendo primeira-ministra do parlamentarismo ... - seu filho erguendo-se das unhas negras que te erguem pela bunda em triunfo -
ou seu filho te beijará a boca sob os detritos e lodos das águas sobre a qual boiam as letras de tua morte por overdose; doses anti-homeopáticas de qualquer coisa que não adeuses pro avião a dois mil metros de altura e farinha de vibrações e sangue coagulado nas porcas das engrenagens e computadores - cloacas!"


Marcelo Nietzsche

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