POEMA EM CURVA


Sempre conheci quem tivesse levado porrada

Todos têm sido campeões em tudo.


Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.


Toda a gente que eu conheço e que fala comigo

Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho e calado

Nunca foi senão príncipe …

princesas, negros, mulheres, homossexuais, bissexuais, cristãos, ateus, evangélicos, muçulmanos, judeus, existencialistas, marxistas, marginais, artistas ...

- todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir em alguém uma voz humana

Que confessasse não uma crença, mas uma idéia;

Que contasse, não um saber, mas uma dúvida!

Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.

Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?

Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!

Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é obtuso e errôneo nesta terra?


Poderão as pessoas não os terem amado,

Podem ter sido traídos - mas covardes nunca!

e quando o foram: sua covardia alimentava o seu Ideal.

Podem ter sido discriminadores, mas isto

era tão somente uma reação à descriminação que sofreram ou sentiram

ou sentiram que sofreram


Um dia iremos nos deparar diante do espelho

e reparar, satisfeitos, que nossa semelhança

é que somos todos diferentes.

Marcelo Nietzsche, d'aprés Fernando Pessoa

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