Passou uma puta enquanto eu versava
Um travesti que andava lento também passou
Lapa, Beco das Carmelitas onde Bandeira morou
Exatamente ali, entre poetas e garrafas
Uma batida pura ,boa cachaça
Uma noite, um poema, um amor
Falávamos de tudo, musas e pitonisas
Repentes, Pessoa, Guimarães Rosa
Enquanto se abria a roda de prosa
Essas “moças da vida” cheirando à flor
Buscavam seu dia na noite chuvosa
Na indisfarçável companhia da dor
Quanta luz habita um poema
Quanto de sombra ele engendra
O que de fato argumenta
Até sair da voz do autor?
Falem poetas dos becos mal iluminados
Falem menestréis abençoados
Falem o que ninguém vê
Falem Flávio, Dalberto e Dudu Pererê
Que as esquinas da Lapa recolham este som
Para reverberar enquanto ecoa a tristeza das mariposas
Quando voam baixo, quase sem sonhar
Quando fazem da rua o seu altar
Onde depositam sua glória
Como se na passarela estivessem
Sabendo que ali nada irão conquistar
A não ser a espera de um ávido assovio ao passar
Falem da miséria ,da intolerância, da ganância
Falem da ralé, da hipocrisia , do desamor
Falem da sobrevivência, da resistência, das anuências
Falem até que o último gole verse um torpor
E enquanto elas passam tentando chamar a atenção
As palavras continuam a derramar-se na emoção
Poesia doce, erótica,anárquica ou bandida
Poemas pesados, falam de filhos abandonados em vão
A fumaça maciça dos cigarros
Transforma o bar simples
Em um pub londrino
Com pandeiros e blues peregrino e o tom aumenta
E a fantasia se alimenta
Para preencher mais uma quinta-feira
Onde os amigos se encontram
E as borboletas sem asas despontam sem que possam voar...
Lar doce bar,
E é na Lapa que o meu peito está,
Lar doce bar,
São doces ratos que buscam a noite para poetar...
Nina Araújo e AnaLu Fernandes
EM:
http://www.overmundo.com.br
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3 comentários:
palavras lapantes demais! Os poetas desfilam,as Carmelitas passarelam.
parabéns pelo trabalho. obrigado pela recepção lá dia 05/02. voltarei. quem quiser depois ler as poesias que li no dia, estão no meu blog. um abração, Beethoven
Falar sobre os Ratos di Versos, é tão simples e tão complicado. Estar com eles e sorver a simplicidade de um Flávio nascimento, a loucura lúcida de um Dalberto Gomes e toda a complexidade,liberdade e jovialidade de um Dudu Pererê que fala Pessoa assim tão naturalmente como quem quase nem sente a emoção que transpira e expira. É isso aí, esse poema nasceu de uma das poucas vezes em que estive lá no Beco das Carmelitas pelas mãos de Flávio e da única vez em que levei a Nina comigo, ela que ñ conhecia nenhum rato ficou alucinada e chegou em casa doida: vamos escrever um poema sobre os ratos e falou nisso o tempo todo, enquanto eu me vestia p/trabalhar ia soltando as idéias que já me eram familiares e p/ela novidade. Foi desse jeitinho que nasceu o Ratos Di Versos(poema) e deixou o povo do Overmundo doido(não é coisa que eles estejam acostumados). Logo mais estarei lá na escadaria do Selarón que inspirou meu poema oculto, agora vou c/minhas próprias pernas e sem dúvida estarei captando tudo c/minha câmera, que é um dos meus maiores prazeres.
Bjs...Mil...
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